Os vinhos chilenos envelhecem bem?

No último dia 29 de outubro, a Wines of Chile reuniu a imprensa para responder a pergunta que não quer calar: “Os vinhos chilenos envelhecem bem?”

Independente de minha opinião pessoal de que “sim, os vinhos chilenos envelhecem bem”, uma oportunidade como essa, enriquece muito a percepção de um degustador.

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A degustação, muito bem organizada e conduzida por Patrício Tapia, colocou à prova alguns dos grandes ícones chilenos, comparando safras de 10 anos ou mais.

Segundo Tapia, argumentando os comentário de vários jornalistas, muito provavelmente os vinhos mais jovens (2010), por sua grande estrutura e acidez, evoluam mais lentamente dos que as amostras de 2000.

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A enóloga Ana Maria Cumsille (Viña Altair) complementou a teoria de Tapia, dizendo que os chilenos passaram os últimos 10 anos conhecendo melhor o terroir do Chile. O resultado desse aprendizado e evolução técnica, pode ser percebido claramente na qualidade dos vinhos mais jovens, que já nascem elegantes e muito prazerosos.

Não se percebe mais, por exemplo, aquelas notas herbáceas enjoativas que ficaram muito famosas (negativamente) nos vinhos feitos de uva carmenère. Agora, a fruta vermelha fresca é predominante. Além disso, é nítido que mesmo nos vinhos mais potentes, o álcool está perfeitamente integrado.

Em resumo, o Chile está traçando, e não é de hoje, um ótimo caminho buscando vinhos mais elegantes, estruturados e longevos. Um caminho marcado por muita observação, estudo do terroir, muitas tentativas, erros e acertos.

É uma estrada longa e difícil, mas a recompensa no final é grande.

Veja abaixo algumas impressões que tive das amostras desses grandes vinhos chilenos:

Don Maximiliano Founders Reserve 2000
Notas de carne crua, terra molhada, couro e a fruta negra madura. Potente, muita acidez e corpo, chocolate, final tostado. Impressionante jovialidade.

Don Maximiliano Founders Reserve 2010
Notas de mentolado, fruta negra madura, taninos mais verdes e mais ligeiro que o anterior. Acidez mais alta, que o deixa mais fresco e elegante.

Don Melchor 2010
Muita fruta negra madura e notas de terra molhada. Taninos jovens em grande quantidade, corpo médio e acidez equilibrada. É um vinho muito elegante e, sinceramente, acho que o Don Melchor deve ser bebido jovem.

Don Melchor 1996
O mais evoluído do painel. Notas oxidadas, carne crua, balsâmico, frutas secas como tâmaras. Acidez e taninos ainda muito vivos.

Santa Rita Casa Real 2010
Como sempre não decepciona. Muita fruta vermelha fresca, leve herbáceo, acidez alta, taninos finos e final bem frutado e adocicado.

Santa Rita Casa Real 2002
No nariz passaria facilmente por um bordeaux numa degustação às cegas. Notas de terra molhada, couro, carne crua, mas em boca muita fruta madura. Tranquilamente evolui muito nos próximos anos. Espetacular.

Altair 2010
Notas de tostado bem marcado, fruta negra madura, cravo, floral. Em boca grande acidez, taninos em grande quantidade, potência, fruta bem madura, tostado, final longo. Apenas metade do vinho passou por barricas de carvalho.

Altair 2002
Aroma marcado de terra, madeira, fruta vermelha fresca, floral, mineral. Acidez mais moderada, taninos finos, final frutado, equilibradíssimo e elegante. Como em 2002 foi a primeira safra, só haviam barricas novas e o vinho estagiou por 15 meses.

Clos Apalta 2010
Notas de baunilha e caramelo mais evidentes, além da fruta vermelha fresca e um leve herbáceo. Em boca, muitos taninos polidos, acidez equilibrada, fruta vermelha madura adocicada.

Clos Apalta 2002
De todos, o mais fechado do painel. Taninos ainda vivos, acidez mais moderada, muito corpo e potência.

Montes Folly 2010
Aroma intenso de fruta vermelha madura, chocolate, tabaco e madeira. Muita elegância, taninos ainda jovens, ótima acidez. Impressionantes 15.2% de álcool que não aparecem pela estrutura e pelo equilíbrio.

Montes Folly 2000
Evoluído, mas com muito tempo pela frente. Notas de terra, tabaco, couro, chá preto, frutas secas e pimenta. Em boca os taninos ainda se apresentam muito vivos e ótima acidez.

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